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sexta-feira, 3 de abril de 2009

ESTAMOS A PERDER AS PESSOAS MAIS CRIATIVAS (V)

“Há um trabalho muito giro sobre artistas, músicos, pintores e cientistas que diz que eles fazem o seu melhor trabalho depois de terem trabalhado numa dada área durante dez anos. Chamam-lhe "os dez anos de espera" (the ten year wait). Ora quantas empresas é que estão disponíveis para esperar dez anos que um artista escreva a sua obra-prima? Nenhuma. Tem de escrever a sua obra-prima para ontem, se não vai para a rua.E, mesmo quando conseguimos encontrá-las e as metemos numa organização, as coisas também não funcionam. Muito do que eu escrevi baseia-se no trabalho de Teresa Amabile, da Harvard Business School, que tem feito muita investigação sobre criatividade. Ela tem uma teoria muito interessante sobre a "motivação intrínseca" das pessoas criativas. As escolas e as empresas começam a dar-se conta de uma coisa que é do senso comum: se não se gosta de uma coisa, é difícil fazê-la bem. Portanto temos de canalizar as pessoas para fazer aquilo que elas adoram fazer, para que a sua motivação intrínseca se mantenha alta.

(…)

Mas as empresas não gerem os seus trabalhadores com base nisso. A gestão das pessoas é feita através de motivações externas: definindo objectivos e subornando as pessoas. O problema é que o suborno mata a criatividade. Se pegarmos numa pessoa que tem uma paixão por alguma coisa e se lhe oferecermos um suborno para fazer essa coisa... Ela vai fazê-la mal.E, apesar de sabermos isso, todos os sistemas de incentivos das nossas empresas estão baseados em bónus financeiros. Dinheiro é a quarta coisa que as pessoas querem. Antes de mais, querem desafios. Isto é verdade para informáticos, engenheiros, artistas, fotógrafos, etc. Também para os jornalistas.
Depois aparece flexibilidade e depois garantia de continuidade para os seus projectos: garantia de financiamento, garantia de que vão poder levar os seus projectos até ao fim. Só depois vem o salário.

(…)

As empresas não gostam de inovação. A cultura empresarial detesta mudança seja de que tipo for e toda a criatividade é mudança. A inovação de que as empresas gostam é acrescentar uma quinta lâmina na máquina de barbear. E a grande inovação do ano que vem será uma sexta lâmina.Não é criatividade, não tem nada a ver com criatividade. As empresas tentam ter inovação sem a criatividade. Porque a parte criativa da inovação é demasiado perigosa. Inovação empresarial é pegar naquilo que se tem e dar-lhe uma volta. Inovação é uma treta.”


(continua)

Gordon Torr
In: «PÚBLICO» caderno P2
Sábado, 28 de Março 2009
Entrevista de Vítor Malheiros

Gordon Torr
Psicólogo; Consultor; Escritor
Autor do livro «Managing Creative People»
http://gordontorr.com/

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