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sábado, 20 de dezembro de 2008

Eu, podcaster, me confesso



O imaginário que a Rádio constrói e povoa. Já em anterior post referi esta questão. Com o tempo e as sucessivas mudanças, creio que esse imaginário empobreceu. A culpa é da programação, das infinitas conversas sobre tudo e nada, das playlists ditadas por autómatos, da ausência de histórias, de pessoas, da ausência de surpresa, da ausência de mistério. Mas a culpa também é de quem ouve e deixou de escutar. De quem perdeu os sentidos. De quem deixou que a imaginação se disciplinasse ao ponto de adormecer.

Como podcaster, liberto dos constrangimentos da Rádio de hoje, procuro, assim, resgatar a música que os anos calaram, as histórias nem sempre com final feliz, os sons nem sempre harmónicos, os silêncios controversos e as emoções contrastantes.

Quem já entrou num estúdio de Rádio sabe que aquele é um lugar de solidão. Ali estamos a sós, com o Mundo do outro lado, invisível. Depois de dois anos de podcasts, sei que a sensação do estúdio não se confina àquelas paredes e que não há isolamento que lhe valha. O destino de cada podcast publicado é desconhecido para o seu autor. Ignoramos como a música será escutada, como o silêncio será interpretado, como a história será entendida.

Mas o que a experiência de podcaster também ensinou - e já que estamos numa época propícia a balanços - é que tudo isto representa ainda um fascínio que tem tanto de indizível como de duradouro. Ainda faz sentido acreditarmos que a música é mais forte que tudo. Ainda faz sentido acreditarmos nas canções. Ainda faz sentido ouvir música em absoluto silêncio. Ainda faz sentido querermos mudar o mundo por causa de um refrão. Ainda faz sentido apaixonarmo-nos. Ainda faz sentido querermos partir. Ainda faz sentido querermos ficar. Ainda.

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