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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A minha amiga Rádio

Conheci um guitarrista que dizia "a minha amiga rádio". Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa Terra Longínqua da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo limitando-se a ouvira a rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida. (Sam Shepard)

Este eterno texto escrito por Sam Shepard, lido e relido, incorporado no próprio discurso radiofónico por alguns de nós, continua, até hoje, insuperável no que respeita à forma como sentimos a RÁDIO.

[ ... ] A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. [ ... ]

Só por nostalgia poderei dizer que estou "condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras". A Rádio não pode ser mais a "arte radiofónica". Poderá ser uma técnica de comunicação bem realizada. Dificilmente Arte. Por isso, os que aspiram à Arte, não podem buscar na rádio actual o campo para desenvolver as suas obras.

O que aconteceu ? A Arte radiofónica morreu ou está apenas aprisionada ? ... Distante ?

Aqui em baixo, uma pequena reverência perante Sam Shepard. Ele mesmo, lendo uma pedaço das suas "Motel Chronicles".

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