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quinta-feira, 23 de julho de 2009

DIXIT

Excertos de depoimentos de três radialistas de três gerações distintas e que se encontram no activo. Autores de rádio escutados pela jornalista Sarah Adamopoulos.
Publicação no passado Domingo na revista «Notícias Magazine» distribuída com os jornais diários «Diário de Notícias» e «Jornal de Notícias».
Ler o trabalho "Heróis no AR" na íntegra aqui (em linha até dia 25)


















«O que as pessoas que advogam as playlists defendem (na estrita linha das políticas das administrações, claro) é que têm de dar às pessoas o que elas querem. Como sabem o que é? É simples: fazem uns estudos de mercado (com uns universos que deixam muito a desejar) às portas dos supermercados, em que perguntam às pessoas o que elas gostam de ouvir. Sinceramente não acho nada fiável, é uma mentira estatística, onde não cabe um Tom Waits. Porque é preciso ver que o problema das playlists é saber o que lá se põe. Uma playlist pode ser recheada de muitas maneiras».
(...)
«Os formatos são mais baratos. Os ficheiros de áudio são muito pesados, como se sabe, exigem muita memória, mas a memória embarateceu muito. Eu posso hoje em dia programar horas e horas de emissão, e isso custa muito menos dinheiro do que ter pessoas em antena a serem criativas. A questão do custo é fundamental. Mas é preciso estar atento às consequências de só fazer assim».

António Sérgio
Autor do programa «Viriato 25»
RADAR [Lisboa 97.8 FM]
2ª-6ª feira (23:00/01:00)
















«Tudo começou com a palavra Questões. Eu já tinha feito um outro programa, chamado Questões de Família, que girava em torno das óperas – um dia dei por mim a pensar que a maior parte das histórias das óperas (e não só, também as das tragédias, as do teatro, como por exemplo a de Hamlet) eram todas questões de família. Nas óperas de Verdi também é assim, ele tem aliás uma fixação nas questões entre os pais e as filhas. Um dia esse programa acabou e pediram-me que fizesse outro. Pensei então que precisava de um conceito onde coubesse tudo, e foi assim que cheguei à palavra Moral. Mas não a moral dos costumes, antes a moral entendida como ética, sim. Porque todas as questões são questões de moral. A lei cobre muita coisa, mas e os aspectos éticos? Os do BPN estão cobertos pela legalidade, mas estarão pela moral? Uma moral para hoje».
(…)
«Os gestores, os administradores, os banqueiros, os ministros, os políticos, que eram pessoas moralmente insuspeitas, em tipos que conseguiram rebentar com a economia mundial – o que não quer dizer que não houvesse já fraudes e vigarices, mas a verdade é que a escala da questão moral é agora global, tal como o mercado».(…)«Quem é que em meados dos anos 1990, quando imaginei o programa, se atrevia a defender a intervenção do Estado na economia? Quem o fizesse era um retrógrado ou um fascista, um intervencionista ou, pior ainda, um comunista, que são os grandes interventores. O mercado era uma coisa sacrossanta, estava no seu esplendor, todos os opinion makers eram liberais. Foi uma vaga, que tudo liberalizou e chegou às relações de trabalho».

Joel Costa
Autor do programa «Questões de Moral»
RDP-Antena2
2ªfeira (13:00/14:00); (23:00/00:00)














«Procuro que o programa faça a ligação entre as pessoas do jazz e as da música electrónica, através do cruzamento entre essas linguagens.»
(...)
«O Planeta Jazz quebra barreiras, mistura públicos e mostra as afinidades que o jazz tem com outras músicas».
(...)
«Sempre que os puristas, ou os fundamentalistas, ficam arreliados, é bom sinal, é sinal de que estamos a deitar muros abaixo, a abrir janelas, porque a música é um bem que não deve ser fechado em clubes privados só para alguns».(…)«Hoje em dia, havendo uma oferta de possibilidades que parece infinita, acho que a generalidade das pessoas acaba por se perder. Mas há ainda muita gente que gosta de descobrir coisas novas, que gosta de se deixar surpreender, para além dos formatos e dos tops de vendas. Gente que vai dispensando essa música descartável, a novidade que se ouve durante uma ou duas semanas e que depois desaparece. Isso tem que ver com a maneira como se consome música e com a formação cultural que não há... e que leva a que tantas pessoas não procurem para além daquilo que é dado pelas playlists. Por outro lado, é preciso ver que muita dessa música que passa nas rádios de massas não tem nada que ver com a nossa cultura, e é também por isso que os mais jovens não ouvem rádio. O hip-hop, por exemplo, que é uma das linguagens que mais interessam os adolescentes, praticamente não existe nas rádios. E o hip-hop em português nem se fala, está ausente na maioria delas».
(…)
«A maneira como nós tratamos actualmente a música tem consequências».

Tiago Santos
Autor do programa «Planeta Jazz»
Oxigénio [Lisboa 102.6 FM]
Sábado (20:00/22:00)

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