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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Planeta Media

O desvario dos programadores

Evidentemente, seria preferível dispor de um estudo quantitativo para confirmar a impressão. E até é possível que ele exista. Só que a impressão é tão forte que vale por si mesma. Porque quando, logo pela manhã, em Portugal, se põe um receptor de rádio em funcionamento, o que salta ao ouvido é a esmagadora predominância da música anglófona. Com umas pontinhas de música portuguesa e de música brasileira pelo meio, valha-nos isso!...
A conclusão é evidente: a grande maioria dos responsáveis das programações das rádios nacionais portuguesas desconhece a história ainda recente do País, a evolução demográfica do País e a realidade cultural do País. É claro que se continua a gargarejar muito sobre a história dos Descobrimentos e a "especificidade" da colonização portuguesa. Só que as músicas das antigas colónias, de onde veio tanta gente ("retornados", exilados ou imigrantes), é, a bem dizer, totalmente ignorada pelas rádios do País.
Da mesma maneira, os ditos programadores estão atingidos por um nível de ceguidade que os impede de ver, e até talvez de saber, de que área cultural faz antropologicamente parte a sociedade portuguesa. Basta constatar que as músicas espanhola, francesa ou italiana estão praticamente ausentes das antenas. Ora, que os amos da programação musical nos meios audiovisuais queiram ou não queiram, é dessa área latina que Portugal faz consubstancialmente parte.
A não ser, é claro, que os amos da programação queiram seriamente reforçar os índices de esquizofrenia palpáveis na sociedade portuguesa de há um quarto de século para cá: a de uma sociedade cujas raízes culturais são incontestavelmente latinas, mas à qual as classes dirigentes têm imposto um modelo económico e cultural anglo-americano. Porque julgam que, procedendo assim, dão provas de modernidade. Espantemo-nos depois se nos centros comerciais só se ouve música anglófona, se lojas há onde as inscrições estão todas em inglês e se até o quiosque da D. Maria do Céu se chama agora "Mary Sky"!


J.M. Nobre-Correia
Professor na Université Libré de Bruxelles (ULB)
In: «Diário de Notícias», Sábado 9 de Maio 2009

2 comentários:

João Luis Silva disse...

Acho que o Sr Professor devia ouvir mais as rádios locais,para mudar um pouco a sua opinião,em relação á passagem de musica portuguesa.Se boa ou má musica,isso já é outra questão...

Francisco disse...

É má música ! Muito má música portuguesa a maioria que passa nas rádios locais. A música "portuguesa" de segunda ordem (a maioria adaptações de "coisas" estrangeiras) tem um poderoso aliado nas televisões, em particular na TVI e, inacreditavelmente, na RTP-1 !!! O problema vai muito para além da nacionalidade da música. Está na sua qualidade. E a atitude dos programadores vai dando bons frutos para a sua causa : vejam os cartazes que se anunciam para os chamados Festivais de Verão ...