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quinta-feira, 19 de março de 2009

lineup

logo à noite regresso àquele extraordinário canto do Incógnito, a “casa das máquinas”.
ando neste momento aqui às voltas a folhear a pasta dos discos, basicamente, a (re)descobrir sons, melodias, ritmos. e ao pensar no meu “postal das 5ªs feiras”, ocorre-me esta partilha; o prazer do momento anterior, aquela altura em que se começa a construir, a organizar a base de mais um projecto (que pode ser uma série de programas de rádio ou apenas um “momento” - é o caso), a típica obstinação de quem gosta de fazer as coisas bem feitas, porque assim é que dá gozo.

alinhar músicas de forma coerente é uma ciência que, e perdoem-me a arrogância, não é para todos. requer trabalho (“treino” pode ser outra palavra), e a dose certa de talento e inspiração. por isso aqueles que me conhecem e trocaram comigo impressões sobre estas coisas da rádio sempre me ouviram dizer que as playlists rígidas soam a cassetes gravadas ao acaso, podendo adquirir o dom de assassinar a melhor das canções.
lembro-me de, há uns bons anos, ouvir ou ler uma entrevista do António Sérgio (talvez por alturas do “som da frente”) em que ele dizia qualquer coisa como isto: “o modo como apresentamos uma música a seguir à outra faz toda a diferença”. esta ideia agrafou-se na minha mente.
o processo vai-se tornando, com os anos, automático, mas ainda hoje, quando alinho um lado B, demoro por vezes muito tempo a encontrar a combinação/sequência certa (para mim, claro) para os temas que escolhi apresentar.
um dos efeitos perniciosos das playlists “rígidas” é precisamente o de substituir a experiência e sabedoria dos produtores, por máquinas. o pior resultado disto é o que todos aqueles que ouvem rádio de ouvidos abertos bem conhecem: lixo sonoro.

o paralelismo é múltiplo e evidente: quantas vezes damos por nós numa esplanada ao fim da tarde a ouvir uma música que “não tem nada a ver”? e é ou não é contagiante dançar ao som de um dj com a noção precisa de que determinada música fica bem a seguir a uma outra? (dj vibe, és o maior!)
em rádio, esta questão ganha ênfase, no meu entender, quando se salta da “playlist” para o programa de autor (felizmente, esta displicência não é generalizada).

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nota: permitam-me que sublinhe aqui, e a título de exemplo - também porque ainda assisti a essa “transição” - o esforço (e bom senso) que o Miguel Fernandes tem depositado na playlist da TSF. dá-me cada vez mais gosto ouvir aqueles camaradas a cozinhar as sequências. a diferença da coerência estética/sonora em relação ao “antes” é abissal.
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mais umas horas e corro o fecho da pasta. mas só depois de desatar mais alguns “nós de memória”, para minimizar as “surpresas” (que acabarão sempre por acontecer - o que até tem a sua graça).

porque a música deve ser, se possível, engrandecida, mas acima de tudo, respeitada.

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