O Volume Continua Alto!
Entre os meses de Fevereiro de 2006 e Novembro deste ano tive o prazer de entrevistar para o blogue «Rádio Crítica» os autores/radialistas/podcasters/bloggers com os quais (eu incluído) se fundou recentemente a «Irmandade do Éter». A «IdE» era ainda uma – já visível – miragem quando se soltaram as primeiras perguntas e respostas. Sentíamos à distância os elos de ligação que nos iriam aproximar aqui, neste espaço, mais de dois anos depois.
A pertinência e actualidade de quase todas as palavras, inquietações e desejos mantêm-se intactas.
Sobre Rádio e Podcast, seguem-se, por ordem cronológica, algumas das declarações dos entrevistados Pedro Esteves, Ricardo Mariano, Francisco Amaral, Nídio Amado, Hugo Pinto e Zito C.
A pertinência e actualidade de quase todas as palavras, inquietações e desejos mantêm-se intactas.
Sobre Rádio e Podcast, seguem-se, por ordem cronológica, algumas das declarações dos entrevistados Pedro Esteves, Ricardo Mariano, Francisco Amaral, Nídio Amado, Hugo Pinto e Zito C.
“As rádios são todas iguais. As pessoas vão perceber que não vale a pena ouvir uma playlist feita por outros quando a música está aí, na Internet, e que podem escolher a gosto as suas músicas preferidas. A música, que passa actualmente nas nossas rádios generalistas, chega primeiro à Internet. A rádio vai ter de se adaptar a esta realidade.”
(...)“Comecei a ouvir rádio na adolescência, fascinado com o seu potencial de comunicação. Comecei pelas estações de onda média, pela Renascença, pelo António Sala e companhia, pela voz e pela palavra (era o que a minha mãe ouvia). Mais tarde descobri o FM, a Rádio Comercial, o António Sérgio, o Luís Filipe Barros. Foi esse o "gatilho" que me levou para a rádio, ainda miúdo, aos 13 ou 14 anos, no tempo das rádios piratas.”
Pedro Esteves
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“O produto das rádios nacionais, de sintonia nacional, é muito igual e absolutamente desolador. Estas rádios são, cada vez mais, formatadas, obtusas, espelho das castradoras playlists que afogam o papel do realizador de rádio e abreviam a oferta de novos, alternativos e criativos programas de rádio. Depois isto é um ciclo vicioso. As rádios das massas regem-se, inevitavelmente, conforme os critérios e padrões umas das outras. Falta coragem, muita coragem. Temos as antenas 1, 2 e 3: a rádio pública. A Antena 3, quando surgiu, assumiu-se como uma rádio diferente. É o que se vê!... Com a excepção de alguns programas nocturnos, não oferece nada de novo. A Antena 2 lá se vai abrindo ao Jazz – ainda pouco – mas tem ali espaço para tanto e ninguém põe mão naquilo. Será que, por exemplo, a “Íntima Fracção” do Francisco Amaral não cabe ali? Haja coragem!”
(...)“As playlists são uma imposição das grandes editoras. Infelizmente, no nosso país, há muito o "efeito bola de neve" – as rádios nacionais tendem a seguir as piores políticas.É claro que as rádios menos poderosos têm de seguir estes critérios editoriais para sobreviver, mas, a meu ver, as playlists são impostas pela indústria e as rádios nem esperneiam.”
Ricardo Mariano
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“Uma contradição proveniente do pensamento liberal económico. Os sectores que aparentemente defendem os direitos da individualidade, são os grandes entusiastas da massificação e do controlo. As rádios portuguesas estão absolutamente controladas, massificadas e banalizadas. Salvam-se algumas pequenas rádios locais – muito poucas – e os exemplos das rádios universitárias.”
(...)“As playlists é um mal. Ponto final. A desculpa da viabilidade económica das rádios é patética, muito pior do que pateta. O panorama actual é o da queda da importância da rádio. A música na rádio está absolutamente desconsiderada. Não é a rádio que faz os êxitos. É a televisão, os vídeoclips. O papel actual da rádio, em matéria de música, é consolidar os êxitos das grandes distribuidoras. É uma extensão desavergonhada do negócio. Embora esta relação perigosa seja histórica, pelo menos desde o chamado "Payola scandal", nos anos 50 do século XX, nos EUA, a música que a rádio agora ajuda a vender, é a mais "pechisbeque", falsa, e aquela que nunca fará a roda da História andar em frente.”
Francisco Amaral
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“A rádio tradicional sempre teve uma grande desvantagem em relação à televisão, as pessoas quando não podiam ver um programa deixavam o vídeo a gravar. A rádio sempre foi um meio de comunicação em que os programas tiveram um tempo de vida curto, reduzido ao momento da sua emissão. A menos que houvesse uma repetição, se alguém perdesse um programa não o podia ouvir. O podcast vem colmatar esta grande desvantagem da rádio. Por outro lado, penso que dentro de dois ou três anos poderá ser uma grande vantagem comercial para as rádios. Com a evolução dos telemóveis em termos de hardware e software vai criar-se um mercado para conteúdos áudio pagos e, consequentemente, uma boa oportunidade de negócio para a rádio. Um pouco como está agora a acontecer com o itunes. Só que na Europa, e em especial em Portugal, dada a nossa tradição no uso do telemóvel acho que as pessoas só aceitarão pagar quando a tecnologia estiver disponível nestes equipamentos e for tão simples de usar como no itunes. Se a rádio souber adaptar-se, o podcast será, sem dúvida, uma mais valia.”
(...)“Comecei a ouvir rádio regularmente desde os 14 anos. Acho que houve nos últimos anos uma regressão generalizada em termos qualitativos. Talvez a excepção tenha sido a Antena1, que tem melhorado, significativamente, sobretudo com o recrutamento de elementos valiosos dos quadros da TSF, apesar de ainda não ter conseguido libertar-se de alguns maus vícios do passado. O encerramento da VOXX foi lamentável, tal como aconteceu com a XFM nos anos 90, e a expansão do grupo Média Capital acabou por ser negativa, a estratégia que adoptaram de formatação das rádios teve resultados desastrosos. Tenho bastantes saudades da TSF dos anos 90.”
Nídio Amado
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“A maior ameaça à Rádio tradicional é a tradição. Ou seja, é a própria Rádio. E o mesmo se pode dizer relativamente à Imprensa ou à Televisão. A natureza destes meios implica uma dialéctica com a tecnologia e o progresso. Neste sentido, a Rádio e os outros meios considerados "tradicionais" devem saber integrar e tirar partido das extensões que a evolução proporciona. O vídeo não matou a Rádio, mas a Rádio mudou. Com o aparecimento da Internet aconteceram novas transformações. É assim que deve ser. Depois, é necessário ter em conta que na Rádio, na Imprensa e na Televisão trabalham profissionais, pessoas que dedicaram a vida a estudar o meio e a melhorar práticas comunicativas. Há uma sistematização do saber, um acumular – algo que os novos meios ainda não têm. Lá chegarão.”
(...)“Diria que as playlists são um mal, ponto. A Rádio teve sempre um papel de agente divulgador musical. É óbvio que têm que haver critérios para a selecção musical, mas esses critérios deveriam ser definidos com uma lógica de promoção da diversidade. Há imensa música dita popular ou de cariz comercial de elevada qualidade. E sublinho apenas que há imensa, já que a qualidade e os gostos se discutem, e muito.”
Hugo Pinto
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“Ainda me considero órfão da extinta XFM. Foi a primeira vez que me identifiquei com uma rádio, com o seu conceito, com os seus objectivos, com quase toda a música, e essencialmente com a forma de fazer rádio. Foi com a XFM que conheci alguma da melhor música que ainda hoje gosto, e foi com a XFM que abri horizontes para tantos novos sons. Depois da XFM virei-me para a TSF, pelas notícias, pelos excelentes programas de autor. Com a mudança que ocorreu na TSF apenas continuo a ouvi-la quando se muda de hora. A Radar tem muitos programas interessantes que acompanho menos do que gostava.”
(...)“Não gosto nada de playlists, aceito a justificação da “viabilidade económica” sem no entanto compreender que à sua conta se deixem cair ou limitem excelentes programas de autor. Uma das vantagens dos podcasts é a liberdade total do seu criador.”
Zito C.
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