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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Em Transe: depois da rádio, o podcast.



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Rafael Anton Irisarri - Solastalgia - Decay Waves
Luís Fernandes - Demora - Rising Edge
Caterina Barbieri - Ecstatic Computation - Bow of Perception
Loscil - Lifelike - Volcano
Nils Frahm - Encores 3 - All Armed
Kryshe - Hauch - Hauch
Alaskan Tapes - Views from Sixteen Stories - Views from Sixteen Stories
Christopher Willits - Sunset - Pacific 1
Sven Laux and Daniela Orvin - The Writings - The Writings
A Winged Victory for the Sullen - The Undivided Five - The Slow Descent Has Begun

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(Last Show January 5th)

Quando naquela noite procurámos
a transparência num mar turvo
o tempo da fúria
em que despíamos as roupas
e do corpo saía uma espécie de espírito
o veludo rasgava-se por extenso
da cabeça ao útero
avançando no curvo sussurro do escuro.
E nós, ventos entre lençóis de água suja
em órbita circular
ainda tínhamos o velho vício de invocar cometas
o pomar das estrelas
as horas de quando colocávamos no centro os medos
estômagos abertos em terra molhada
repetíamos as quedas
com a cabeleira entrançada
às sete cabeças do bicho.
Com a areia apertada nas mãos
e um arco-íris à cintura
escorregávamos lentamente entre o sangue
e a fissura das cores
gotas doces preciosas
a anestesia da precisão
que nos levou ao submundo.
Para ti tentar a sorte era o equivalente à combinação
entre uma onda vertical
e um mergulho moribundo
o espaço entre o mar
e as paredes descascadas
sem qualquer escape às línguas ásperas.
Por isso entravas depois
todas as manhãs
no submarino
com o amor ao longe
a desilusão mordendo o fio à dentada
equivalente aos bagos nus
comidos em sucção e sequência
a pulsão latejante 
rente à nossa boca profundamente tonta, cega e cansada.
A desobediência da vertigem íntima
de um coração cantante
pesa agora cravada na flauta do silêncio.
Não vemos nem o pó
nem a suspensão vela mais pelo fogo marítimo que engolimos.
A militância faz-se quando o mar ainda arde mas não sobe mais o calor da chama.
Apagam-se os cigarros
restando o mistério que inflama
em direção ao sol
ao ritmo das plantas
a saudade perseguindo a noite
os sorrisos como ruínas.
E nós, encolhidos nos quartos
tentando descobrir uma certa paz
nas asas negras carregadas
enterrando os mortos
a despedida ao som do canto trágico
que rodeia os viajantes
aqueles que sabem
que o fundo desse oceano 
ficará um dia cristalino. 

Poema | Poem by - Ana Freitas Reis
Fotografia | Photo by - Alípio Padilha

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