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Dictaphone - APR 70 - Stanko
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Sophie Hutchings - Drift - Tomorrow
Omrr - Devils For My Darling - Aquiver
Rudy Adrian - E-dition #7 - Midnight Fantasy Angel
Philipp Rumsch - Reflections - Prologue
Chihei Hatakeyama - Afterimage - That Мorning
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(Last Show January 13th)
No meio do nevoeiro, encontrei um texto do ano passado. Novembro, o mês escuro que se deitou sobre os livros dispostos em monte à entrada de minha casa. Sempre os olhaste com ternura. Espantava-te o longo corredor que percorrias com a sensação de um túnel estreito feito de cabeça baixa. E o ritual repetia-se: entrávamos na sala, sem luzes, de veneno nas mãos e na boca. Tinhas horror ao apego e eu sentia-te como um Deus destronado a guardar rancor por qualquer espécie de reinado ou mito. Por isso fugias bem rápido, meio confiante, meio aflito até que deixámos de acender cigarros juntos. Deixámos as roupas, como os livros espalhados pela casa. Os abraços com os mesmos braços com que passeias o eterno retorno à tragédia. Indiferente à própria queda. Sabíamos que a minha casa era apenas uma esquina atravessada em flecha, cuja ponta dispara palavras sonâmbulas, com a força que atinge os corpos acabados na manhã. Conhecíamos os afectos tísicos que se incendeiam antes do regresso à rua. Íamos sós, com os ouvidos e a garganta apurados de uma morte súbita. O tempo todo oscilando outro tempo, como se a eternidade pudesse ficar fixa numa morada. Fica o teu peso contra o meu tamanho. Mantém-se a curva completa pelo calor. Fina folha de papel tímida sob a matéria bruta saída dos raios de um aquecedor. O chão ainda estala no vazio. A fome continua a vir do fogo e ainda vestes, na mesma exata proporção das manhãs, o fato de perdedor.
No meio do nevoeiro, encontrei um texto do ano passado. Novembro, o mês escuro que se deitou sobre os livros dispostos em monte à entrada de minha casa. Sempre os olhaste com ternura. Espantava-te o longo corredor que percorrias com a sensação de um túnel estreito feito de cabeça baixa. E o ritual repetia-se: entrávamos na sala, sem luzes, de veneno nas mãos e na boca. Tinhas horror ao apego e eu sentia-te como um Deus destronado a guardar rancor por qualquer espécie de reinado ou mito. Por isso fugias bem rápido, meio confiante, meio aflito até que deixámos de acender cigarros juntos. Deixámos as roupas, como os livros espalhados pela casa. Os abraços com os mesmos braços com que passeias o eterno retorno à tragédia. Indiferente à própria queda. Sabíamos que a minha casa era apenas uma esquina atravessada em flecha, cuja ponta dispara palavras sonâmbulas, com a força que atinge os corpos acabados na manhã. Conhecíamos os afectos tísicos que se incendeiam antes do regresso à rua. Íamos sós, com os ouvidos e a garganta apurados de uma morte súbita. O tempo todo oscilando outro tempo, como se a eternidade pudesse ficar fixa numa morada. Fica o teu peso contra o meu tamanho. Mantém-se a curva completa pelo calor. Fina folha de papel tímida sob a matéria bruta saída dos raios de um aquecedor. O chão ainda estala no vazio. A fome continua a vir do fogo e ainda vestes, na mesma exata proporção das manhãs, o fato de perdedor.
Poema | Poem by - Ana Freitas Reis
Fotografia | Photo by - Alípio Padilha
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